Ano novo, nova atitude

Autoria: Livia Araújo

Muita coisa boa aconteceu em 2011. Principalmente no que diz respeito à consciência da necessidade de mudar. Os indignados despertaram para a luta e, melhor, lutaram com dignidade mesmo sob a forte oposição dos ditadores do senso comum. Com quem advoga pelo ciclismo como meio de transporte não foi diferente. Para provar que nem sempre é a caneta do governante que provoca melhorias, a atitude nas ruas mudou porque, nós ciclistas, estamos deixando de nos tornar invisíveis para fazermos parte do trânsito. E um trânsito com mais bicicletas e, principalmente, mais respeito entre todos, é o que desejo para todos nós em 2012.

Ricardo, o iluminado

Parte da mídia meio que esqueceu de perguntar:  por onde anda o atropelador de ciclistas Ricardo Neis? Eu não sei nem quero saber o que ele tem feito, mas a Juju sabe. Clique na imagem para ver ampliado.

Autoria: Livia Araújo

Pessoas normais

Autoria: Livia Araújo - clique na imagem para ampliá-la

Comendo pelas beiradas

Hoje, o Jornal Metro Porto Alegre questionou os tuiteiros de plantão com a pergunta: “Você enfrenta problemas para estacionar na cidade? Quais?”. Eu respondi a eles sobre a falta de bicicletários e de infraestrutura para ciclistas na cidade. Fiz essa tirinha do domingo, mas como é inédita, acho que se aplica à questão. 🙂

Obs.: para ver a imagem ampliada, basta clicar na tirinha.

Autoria: Livia Araújo

Reproduzindo discursos

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Feliz Natal

Tenho pensado em fazer umas tirinhas sobre bicicleta à la Yehuda Moon. Fiz uma primeira tentativa tosca e compartilho com vocês. Fica, assim, meu presente de Natal e um desejo de que 2012 será melhor e mais agradável para toda a cidade. A bicicleta tem um papel nisso, com certeza. 🙂 (para aumentar, clique em cima)

Autoria: Livia Araújo

Ciclorretrospectiva

2011 tem sido um ano ímpar para a bicicleta no Brasil, pela visibilidade que o tema ganhou no noticiário, nas redes sociais, e até mesmo nas ruas e seus espaços de discussão. Aconteceu de tudo: foram fatos lamentáveis que trouxeram à tona o descaso do poder público e a desatenção da mídia aos usuários de bicicleta e declarações infelizes de autoridades e (pseudo) formadores de opinião. Mas também foi a presença, no Brasil, de personalidades importantes para a difusão do uso da bicicleta, implementação de políticas relevantes, fortalecimento do cicloativismo e, sobretudo, uma mudança de postura da mídia de maneira geral, abordando, de maneira mais responsável, a necessidade da transformação do modelo de planejamento urbano para formatos mais humanos e sustentáveis. E, pura e simplesmente, mostrando a bicicleta como um elemento do dia a dia, e o ciclista como um cidadão com direitos, necessidades e características interessantes e atraentes. Confiram neste longo post e nos próximos textos, alguns dos fatos mais importantes do ano.

– Em 25 de fevereiro, Ricardo José Neis, funcionário do Banco Central, acelerou seu automóvel contra cerca de 150 ciclistas que participavam da Massa Crítica em Porto Alegre. Foi indiciado por 17 tentativas de homicídio e aguarda julgamento em liberdade. As imagens chocantes correram o mundo e a hashtag #naofoiacidente esteve entre os trending topics do Twitter por cerca de três dias, em resposta à abordagem inicial da imprensa, que tratava o caso como “acidente” e não como uma tentativa deliberada de assassinato. Ciclistas fizeram manifestações em solidariedade aos porto-alegrenses em diversas cidades no planeta (Buenos Aires, Paris, Rio de Janeiro, São Paulo, Madri e até São Francisco, o berço da Massa Crítica) e a imprensa mundial relatou o fato com perplexidade. A partir de então, a Massa Crítica de Porto Alegre, que reunia cerca de 150 ciclistas a cada mês, passou a reunir de 300 a 500 ciclistas mensalmente.

– Em 2 de junho, o prefeito de Copenhague, Frank Jensen, pedalou em São Paulo fora do horário de pico e declarou: “Eu sentiria medo de andar de bicicleta todos os dias em São Paulo. Não me sinto seguro dividindo espaço com os carros. É muito difícil andar de bicicleta aqui”. Também disse que “Copenhague era assim 30 anos atrás e nós investimos muito para tornar a bicicleta um meio de transporte fácil e seguro.”

Onze dias depois, em 13 de junho, o ciclista Antônio Bertolucci, presidente do conselho da empresa Lorenzetti, morreu ao ser atropelado por um ônibus em São Paulo. O motorista do veículo disse que não viu o ciclista por estar em um ponto cego. Por quê não foi acidente?

– Criador do termo “cycle-chic” e do blog homônimo (inspirador de centenas de outros blogs de moda+bikes pelo mundo, que ajudaram a popularizar o uso da bicicleta no cotidiano), o dinamarquês Mikaël Colville-Andersen esteve em São Paulo em 9 de julho para o Fórum Semana do Ciclista – Tendências, que contou também com o cicloativista Willian Cruz  e outros debatedores. Mikael também aproveitou para fazer amizade com a galera e prestou até um lindo tributo. No Rio de Janeiro, o fotógrafo também participou da “inauguração” do blog Rio de Janeiro Cycle Chic.

– O ex talking head David Byrne, autor dos Diários de Bicicleta, veio em julho para o Brasil e fez sucesso na FLIP e no Fórum Cidades, bicicletas e o futuro da mobilidade, apresentando suas impressões sobre o trânsito nas várias cidades do mundo por que pedalou e comentando como a bicicleta pode transformá-las. Update: Byrne também foi objeto de uma extensa e instigante entrevista na revista Trip de julho, edição extra só sobre a bicicleta.

– Uma ciclofaixa de 3,3 km foi inaugurada no bairro paulistano de Moema em 05 de novembro em fase de testes, e foi rejeitada por parte dos comerciantes do  bairro. Em declaração infeliz, a lojista Carol Maluf disse que suas clientes milionárias nunca andariam de bicicleta em saltos altos. Ciclistas aproveitaram a deixa e marcaram o evento “milionárias de bike”, que reuniu gente de salto alto e roupa social para prestigiar a nova estrutura cicloviária. Posteriormente, outros comerciantes passaram a dar descontos e incentivos a clientes ciclistas, de olho no potencial consumidor desse segmento.

Posicionamento exemplar

O cartaz acima está no site da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA). Achei excelente o tema e a abordagem. Enquanto entidade de classe, o posicionamento da Anfavea é exemplar. Por que, no entanto, a postura individual de cada fabricante é, por meio da publicidade massiva, estimular a velocidade, em comerciais que festejam a agressividade, a ascensão social por meio de um carro de luxo, ou que simplesmente mentem a respeito de impacto ambiental ou ruas desimpedidas para o trânsito? Os automóveis – carros de passeio, não de corrida – vendidos no país têm a capacidade de atingir velocidades bem maiores que os limites de qualquer estrada nacional. Os próprios nomes dos carros incitam a essa infração.

Afinal, quem vai comprar um “Veloster” da Hyundai, não vai querer rodar a reles 40km/h por hora…

Está na hora de a Anfavea cobrar essa responsabilidade de seus associados.

Leia mais sobre a manipulação publicitária sobre o uso de automóveis.

É a bicicletada do comandante!

Arte de Jonatas Dornelles

Minha primeira massa crítica – uma retrospectiva educacional

Em julho de 2010 participei da massa crítica em Porto Alegre pela primeira vez. Eis as minhas impressões, na época.

“Se pedalar sozinho é um ato de coragem em Porto Alegre, pedalar na Massa Crítica é um ato de liberdade. Em grupo, a gente também se sente mais seguro, em parte porque os motoristas, para quem em geral o ciclista é invisível, percebem você de maneira inevitável. O trânsito, aparentemente, pode ficar mais lento por causa do grupo de ciclistas, mas não: é a consciência dos motoristas que aflora de repente, pois não podem nem devem andar na velocidade que querem, pois ciclistas e pedestres existem, pois a vida existe para ser vivida fora da “bolha” de metal.

Algumas reações são violentas, principalmente as dos motoboys, naturalmente estressados por prazos e pela própria tensão do trânsito. Alguns motoristas xingam. Outros sorriem. Outros buzinam simpáticos. Nos pontos de ônibus também. Sorrisos. Sorrisos de volta. Distribuí uns panfletos nas paradas de ônibus, para que aquele pessoal que vai enfrentar o T3 cheio não queira ir de carro: que existe outra opção e ela, aos poucos, está coexistindo com carros, ônibus, motocicletas. Isso é multimodalidade.

Participaram da Massa Crítica de julho mais de 60 pessoas. E todo mundo gostou e achou ótimo, mesmo sendo uma única vez no mês. Em cidades como Utrecht, na Holanda, esse volume de gente é muito maior. E diariamente. Em Portland, nos Estados Unidos, também, e não há muitas ciclovias por lá. O espaço é compartilhado. O importante é que tanto a sociedade quanto os governos respeitem o que já está previsto em lei“.

Um ano e meio depois, incluindo um bárbaro atropelamento em março deste ano, a massa crítica cresceu. Passou dos 60 participantes do passeio, em julho de 2010, para um volume que oscila entre 300 e 500 pessoas de bicicleta (o Correio do Povo, em sua matéria tendenciosa, apontou mil participantes). O que será que motivou esse crescimento? Muitas dessas pessoas em Porto Alegre – e em milhares de cidades do mundo –  que levam às ruas suas bicicletas na última sexta-feira do mês, dirigem carros em outras ocasiões ou já o fizeram muitas vezes na vida. No entanto, de alguma maneira estão descontentes com um meio de transporte que, apesar de sua eficiência individual e conforto interno, no plano coletivo e em grande número (aliado a uma administração pública negligente e incompetente no planejamento urbano), acaba provocando danos em escala massiva: de poluição e estresse a assassinatos e mutilações. Algumas das pessoas que passaram a frequentar a massa crítica também adotaram a bicicleta como meio de transporte em seu dia a dia e contribuem para o crescimento do uso da bicicleta em Porto Alegre, mesmo com todas as dificuldades enfrentadas nos deslocamentos e um descaso do poder público pouquissimamente compensado com políticas de mobilidade ainda inócuas mas amplamente noticiadas.

Desde julho de 2010, ocasião da minha primeira massa crítica, ouço os gestores municipais e parte da mídia dizer que o evento “tranca a rua”, provocando engarrafamentos (quem será que provoca engarrafamentos em todos os outros dias do mês além da última sexta feira?). Quase um ano e meio depois, eles ainda procuram líderes e comandantes na massa crítica e nas bicicletadas, mesmo tendo à sua disposição a vastidão do Google, o didatismo da Wikipedia e as informações presentes nos próprios veículos do movimento de caráter mundial. Para contribuir com o esclarecimento de nossos governantes, o documentário legendado We Are Traffic (em quatro partes), incluso abaixo, pode oferecer respostas esclarecedoras sobre o evento. Só me admira constatar que, se um governo municipal dá tão pouca atenção na busca de informações sobre um evento de realização tão simples como a massa crítica, o que se dirá de temas mais complexos, como a mobilidade urbana em si, a saúde, a educação, a segurança pública e o combate à corrupção?